O ombro é a articulação mais
dotada de movimentação livre no corpo humano, permitindo flexão, extensão,
hiperextensão, abdução, adução, abdução e adução horizontais, e rotação medial
e lateral do úmero. (HALL, 2005)
Segundo
Kapandji (2007) ainda existe o movimento de circundução. Onde conceitua este
movimento como sendo a combinação dos movimentos elementares ao redor dos três
eixos, forçados em sua amplitude máxima.
A instabilidade do ombro é
uma condição patológica, onde a translação na interface glenoumeral se torna
excessiva, causando dor e desconforto, representando a quebra do equilíbrio
entre os estabilizadores estáticos e dinâmicos do ombro. (LECH et al, 2005)
A
instabilidade do ombro é um problema clínico comum, ocorrendo mais
freqüentemente à instabilidade anterior. (FERREIRA NETO et al, 2011)
Ocorre
devido à estrutura frouxa da articulação glenoumeral permitir grande
mobilidade, mas proporcionando pouca estabilidade, podendo as luxações ocorrerem
nas direções anterior, posterior e inferior. (WHITING; ZERNICKE, 2001)
As
luxações glenoumerais acontecem normalmente quando o úmero é abduzido e rodado
externamente, sendo as luxações ântero-inferiores mais comuns que as outras. O
que leva também a grande predisposição a luxações da cavidade glenóide, é o
fato do tamanho insuficiente da cavidade glenóide, a inclinação anterior dessa
cavidade, a retroversão inadequada da cabeça do úmero e déficits nos músculos
do manguito rotador. (HALL, 2005)
A
instabilidade glenoumeral anterior pode ser dividida em: luxação traumática
aguda e luxação recidivante ou subluxação. A maioria das luxações anteriores
agudas ocorre com o braço abduzido a 90º, em extensão e rodado externamente.
Isso ocorre geralmente quando é aplicada uma força anormal ao braço do atleta
que está executando o arremesso. (ANDREWS et
al, 2000)
Segundo
Souza (2001) e como já citado acima a maior incidência das instabilidades
glenoumerais ocorre no sentido anterior, e o tratamento conservador parece ser
o mais efetivo nos casos não traumáticos. Também enfatiza a importância dos
testes clínicos, pois a avaliação clínica é o que deve determinar a condução do
trabalho fisioterapêutico.
Segundo
Andrews et al (2000) a subluxação ou
instabilidade anterior do ombro pode instalar-se sem história de traumatismo,
sendo comum nos arremessadores. Com freqüência, o ombro subluxado recebe a
designação de “síndrome do braço morto”, pois se caracteriza por perda da força
e potência do ombro, além de sensação de estalitos.
A
classificação das instabilidades do ombro é baseada tradicionalmente na direção
(anterior, posterior, inferior e multidirecional), no grau (subluxação, luxação
e microtrauma), na freqüência (aguda, recorrente e crônica) e na etiologia
(traumática, atraumática, microtrauma, congênita e neuromuscular). Na maioria
das vezes, as instabilidades anteriores são diferenciadas em duas formas: TUBS
(traumatic, unidirecional, Bankart lesion, surgery) e AMBRI (atraumatic,
multidirecional, bilateral, rehabilitation, inferior capsular shift). (HONDA et al, 2006)
Epidemiologia
A
luxação anterior recidivante do ombro é lesão bastante freqüente nos
consultórios ortopédicos, acometendo principalmente em jovens, muitas vezes
atletas, praticantes de esportes de contato; pode evoluir para episódios
recorrentes de instabilidade sintomática e ser bastante incapacitante. Ocorre
em todas as idades, com complicações relativas a cada período; em jovens,
comumente durante esportes de contato e, em idosos, após traumas de baixa
energia. (LECH et al, 2005)
As
luxações são lesões comuns na região do ombro, sendo a articulação glenoumeral
a mais comumente luxada em todo o corpo (45% das luxações) ocorrendo em torno
de 1,5 a 2,0 % da população em geral (VASCONCELOS, 2003). Nos esportes, as
lesões de ombro correspondem a 8 a 20% do total das lesões. (TOLEDO et al, 2009)
A
instabilidade anterior do ombro tem incidência superior a 95% dos casos. A
instabilidade posterior tem uma incidência de 2%. Há ainda instabilidade
inferior, bidirecional e multidirecional que, no entanto têm predomínio numa ou
mais direções. (CARTUCHO et al, 2007)
Aproximadamente
25% dos pacientes relatam história familiar e alguns estudos demonstraram que a
taxa de recorrência da lesão é alta, sendo maior quanto mais novo o paciente,
acometendo praticamente 100% daqueles com até 10 anos de idade. (HONDA et al, 2006)
De
acordo com Browner et al (2000) na série de Rowe de mais de 500 luxações de
ombro, 95% das luxações foram classificadas como traumáticas.
Manetta;
Righi; Nicoletti (2000) em estudo epidemiológico realizado com 120 pacientes
obteve que a luxação anterior do ombro é mais comum em homens, brancos e
destros. Em 19 (15,8%) pacientes, o histórico familiar foi positivo.
Levando em consideração apenas a articulação do ombro,
Ejnisman et al (2001), avaliaram 119
atletas de diversas modalidades, com queixas relacionadas à região do ombro e
constataram que 95 pacientes (79,8%) eram do sexo masculino, 71 (59,6%) arremessadores
e 76 (63,8%) competitivos. O membro dominante foi acometido em 76 (66,3%) dos
casos. As lesões traumáticas foram mais freqüentes nos esportes de contato e as
lesões atraumáticas nos atletas arremessadores, 86 atletas (72,2%) queixaram-se
de dor. O mecanismo atraumático, com 66 (55,4%) casos, foi mais freqüente,
seguido dos traumas diretos, com 37 (31%), e traumas indiretos com 16 (13,6%).
O tipo de lesão mais freqüente foi a luxação, com 35,7%, seguido das
tendinites, com 31%. O retorno ao esporte ocorreu em média após sete semanas;
89 (74,8%) atletas retornaram ao mesmo nível de competição e 24 (20,2%)
diminuíram seu desempenho; seis (5%) não voltaram ao esporte.
Mecanismo
de lesão
Segundo
Lillegard; Butcher; Rucker (2002) há principalmente dois mecanismos de lesão. O
primeiro com traumatismo direto sobre a articulação do ombro, como por exemplo,
um golpe direto sobre o acrômio ou sobre a região posterior do ombro, causando
a luxação anterior. E o segundo com traumatismos indiretos, como descrição
abaixo.
O
principal mecanismo de lesão na luxação anterior do ombro se dá por uma força
indireta aplicada sobre o braço, com o mesmo abduzido a 90º, estendido e rodado
externamente. (PLACZEK; BOYCE, 2004)
REFERÊNCIAS
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WILK, Kevin E. Reabilitação física das
lesões desportivas. 2ª edição. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2000.
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fraturas, luxações, lesões ligamentares. 2ª edição. Volume II. Barueri:
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