Diagnóstico
por Imagem
As luxações podem ser
avaliadas pela radiografia convencional, através dos achados de lesão de
Hill-Sachs e Bankart ósseo, com imagens radiográficas simples em posição
neutra, em rotação interna e em rotação externa. Ainda na fase aguda, devido à
presença de derrame articular que promove distensão capsular e contraste
natural, a ressonância magnética (RM) convencional pode demonstrar precisamente
a lesão labral resultante do deslocamento glenoumeral. A artrotomografia é um
método alternativo, nos casos em que o paciente está impedido de realizar RM ou
artroressonância (claustrofóbicos, portadores de marca-passo e/ou próteses
metálicas). Porém dentre os métodos de imagem, aquele que oferece mais
informações é a artro-ressonância. (HONDA et
al, 2006)
Fig. 1. Radiografia demonstrando luxação anterior da articulação glenoumeral.
Fonte:
http://www.fraturascruzalta.com.br/servicos/vis/vis/?id=25
Segundo Veado (2004)
a tomografia computadorizada e a ressonância magnética são exames
complementares de grande valia para o diagnóstico da luxação do ombro.
Fig. 2. Artro-ressonância magnética do ombro direito, mostrando luxação anterior com lesão de Bankart (seta).
Fonte:
http://www.milton.com.br/esporte/casos/caso_127.htm
Ejnisman e
colaboradores (2001) realizaram estudo onde avaliaram 119 atletas com queixas
relacionadas ao ombro e relataram que o diagnóstico complementar destes foi
realizado em 98 atletas (86,7%) dos casos através de radiografia, 40 (36%) por
ressonância magnética, 25 (21%) por ultrassonografia, 3 (2%) por cintilografia
óssea, 3 (2%) por eletroneuromiografia e por fim 1 (1%) por tomografia
computadorizada.
Gráfico 1. Baseado em
Ejnisman et al (2001).
A história clínica
minuciosa, exame físico atento e detalhado, aliados à investigação radiológica
com a indispensável incidência em axilar, são a chave para a correta
identificação da lesão e nos levarão certamente ao diagnóstico. A radiografia
do ombro feita em incidência AP ou axilar facilita a interpretação da imagem,
principalmente a incidência axilar, pois é definitiva para o diagnóstico da direção
da luxação. (VEADO, 2004)
A tomografia
computadorizada auxilia também da detecção de lesões associadas à luxação,
como: fratura da glenóide e defeitos da cabeça do úmero. Da mesma forma a
ressonância magnética ajuda a verificar o estado do tendão do músculo
subescapular, principal estabilizador passivo contra a luxação anterior, além
de outros tendões e ligamentos. (LOEBENBERG; CUOMO, 2000)
A posição em abdução
e rotação externa durante o exame de RM pode evidenciar o impacto
póstero-superior da glenóide ou translação anterior da cabeça umeral aumentada,
auxiliando no diagnóstico diferencial do ombro doloroso dos atletas
arremessadores. (TIRMAN apud EJNISMAN
et al, 2001)
Diagnostico
clínico
Para
avaliar a estabilidade articular é realizado uma série de rotina de manobras
articulares individuais, como parte do exame geral, e testes adicionais são
efetuados conforme necessário para identificar uma instabilidade mais sutil.
(DELISA; GANS, 2002)
O
exame clínico direciona-se, sobretudo na verificação de fatores de riscos como
a hipermobilidade articular, a alteração do ritmo escapulo-torácico e na
verificação de sinais de instabilidade. Esses sinais podem indicar a presença
de lesões estruturais como a do labrum superior, capsula inferior, labrum póstero-superior
por instabilidade anterior verificada, sobretudo na atividade esportiva.
(CARTUCHO, 2007)
Na
avaliação ortopédica deverá ser pesquisado a história e os achados clínicos de
instabilidade glenoumeral anterior. Os achados clínicos diagnósticos mais
comuns são: dor, dificuldade de realizar atividades de rotina, diminuição de
movimentos do ombro, teste de gaveta anterior positivo e sinal de apreensão.
positivo (GÓMEZ, 2008)
Segundo
Placzek; Boyce (2004) os testes clínicos especiais ou ortopédicos indicados
para diagnosticar a instabilidade anterior do ombro são os de troca de carga,
de apreensão anterior e de manivela. Além desses segundo Palmer; Epler (2000)
há ainda os testes do fulcro, gaveta anterior, Rockwood para instabilidade
anterior e o teste de Feagin.
De
acordo com Evans (2003) existem outros testes para detectar a luxação anterior
do ombro, são eles: sinal de Bryant, teste de Colloway, teste de Dugas, teste
de Hamilton e a manobra do ombro de Mazion, além do teste de apreensão
anterior.
O
teste de apreensão anterior é o principal teste para diagnóstico clínico para a
instabilidade anterior e luxação anterior da glenoumeral, visto que o mesmo
expõe o atleta ou paciente à mesma posição do mecanismo de lesão desta
patologia. Este teste é realizado com o paciente sentado, em posição
ortostática ou em decúbito dorsal, o examinador posiciona o membro superior em
90º de abdução, 90º de flexão do cotovelo e rotação lateral. Essa manobra induz
a um deslizamento anterior da cabeça do úmero e pode ser potencializada com o
aumento da rotação lateral e aplicação de uma força no sentido anterior sobre a
região dorsal da cabeça do úmero. (SOUZA, 2001)
O
teste de apreensão anterior do ombro pode ser considerado positivo quando o
atleta ou paciente relatar dor ou apreensão, ou simplesmente a falta de
disposição em executar a manobra descrita acima. (LILLEGARD; BUTCHER; RUCKER,
2002)
Fig. 3.
Teste de Apreensão Anterior do Ombro
Fonte:http://fisioterapiahumberto.blogspot.com/2009/04/testes-de-instabilidade-anterior-de.html
O
teste de gaveta anterior do ombro procura detectar a hipermobilidade anterior
da articulação glenoumeral. O paciente é posicionado em decúbito dorsal sobre
uma maca, com o braço além da extremidade da mesa. O terapeuta estabiliza a
escápula com a mão contralateral, onde o polegar está sobre o processo
coracóide e os demais dedos sobre o acrômio, a mão ipsilateral do terapeuta
segura o úmero na região da axila. O braço do paciente é abduzido
aproximadamente 20º e discreta flexão. Em seguida é realizado um deslizamento
anterior da cabeça do úmero sobre a cavidade glenóide. (OMBREGT; BISSCHOP,
2001)
No teste de
gaveta anterior pode-se notar uma translação excessiva da glenoumeral no
sentido anterior, neste caso o teste é considerado positivo, quando comparada
com o lado oposto. (NEUMANN, 2006)
Segundo
Evans (2003) durante a realização do teste de Dugas o paciente deve ser capaz
de colocar a mão do ombro afetado sobre o ombro oposto e tocar o tórax com o
cotovelo. O teste é positivo se o paciente não puder tocar o tórax com o
cotovelo. O terapeuta pode ainda aplicar uma força no cotovelo em direção ao
tórax, se o paciente for incapaz de mover o cotovelo ou sentir uma exacerbação
da dor, o sinal é positivo.
O
complexo do ombro pode ser avaliado por elementos subjetivos e objetivos da
prática propedêutica, sendo relevantes a anamnese e o exame físico. O exame
físico é composto de inspeção óssea, palpação óssea, avaliação da amplitude de
movimento (ADM) e força muscular (FM), verificação dos reflexos e nível de
sensibilidade, além da aplicação de testes especiais que desempenham papel
importante na investigação da integridade ou não dos tendões. A aplicação dos
testes clínicos permite identificar a lesão ou integridade dos tendões com
cerca de 90% de acerto diagnóstico. (METZKER, 2010)
A
ADM pode ser testada de maneira ativa e passiva, tendo o complexo da cintura
escapular envolvimento nos movimentos de flexão e extensão, adução e abdução,
rotação externa e interna e circundação, onde há combinação de todos os
movimentos. (HOPPENFELD, 2008)
Em
cerca de 90% dos casos, o diagnóstico da instabilidade do ombro é estabelecido
pela história e exame físico. Estudos de imagem dão informações anatômicas
úteis, apesar de não demonstrar a situação dinâmica da articulação. (LECH;
PINTO JÚNIOR; SEVERO, 2003)
O
diagnóstico e tratamento precoces da hipermobilidade glenoumeral conseguem
prevenir uma patologia séria como resultado da luxação ou do impacto. Porém, é
difícil diagnosticar a hipermobilidade leve, pois é causada por translação
excessiva da cabeça do úmero durante a movimentação ativa sem os sinais e
sintomas associados à subluxação ou a instabilidade. (HALL; BRODY, 2007)
Quadro
clínico
A
subluxação, comum em atletas portadores de luxação recidivante, tem como
principal manifestação clinica a “Síndrome do braço morto” ou de “impacto
secundário”, nos quais a abdução e rotação externa levam a subluxação anterior,
gerando dor aguda e perda momentânea da função do ombro com queda súbita do mesmo.
(VASCONCELOS et al, 2003)
A instabilidade do
ombro pode ocasionar dor, limitações de movimento, lesões do plexo braquial,
capsulite adesiva e lesões nos músculos da bainha rotatória (TURNER-STOKES, L;
JACKSON, D, 2002). Esses fatores contribuem para o atraso da recuperação do
membro superior e estão diretamente relacionados à interferência na qualidade
de vida desses pacientes. (CHAE et al,
2007)
REFERÊNCIAS
CARTUCHO; BATISTA; SARMENTO. Conceitos
actuais sobre instabilidade do ombro. Revista Portuguesa de
Fisioterapia no Desporto.
Vol. 1. Nº 2. Julho/2007.
CHAE, J; MASCARENHAS, D; YU, DT; KIRSTEINS, A; ELOVIC, EP; FLANAGAN, AR et al. Poststroke shoulder pain: its relationship to motor impairment, activity limitation and quality of life. Arch Phys Med Rehabil. Vol. 88. 2007.
DELISA; GANS. Tratado de medicina de reabilitação: Princípios e prática. 3º edição. Vol. 1. Barueri: Manole, 2002.
EVANS, Ronald C. Exame físico ortopédico ilustrado. 2ª edição. Barueri: Manole, 2003.
GÓMEZ, Gisele Florence. Estudo comparativo entre artrotomografia computadorizada “multislice” e artrorressonância magnética na instabilidade do ombro correlacionadas com os achados atroscópicos. Tese de doutorado (Doutorado em ciências/ área de concentração: Radiologia). Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2008.
HALL, Carrie; BRODY, Lori. Exercício terapêutico: Na busca da função. 2ª edição. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2007.
HONDA; AIHARA; NATOUR; FERNANDES.
Artro-ressonância do ombro na instabilidade anterior. Rev. Bras. Reumatol. São Paulo. Vol. 46. Nº 3. Junho/2006.
HOPPENFELD, S. Propedêutica ortopédica: coluna e extremidades. Rio de Janeiro: Atheneu; 2008.
LECH; PINTO JÚNIOR; SEVERO. O uso de âncoras no reparo aberto da luxação anterior recidivante do ombro. Rev Bras Ortop. Vol. 38, Nº 11/12 – Nov/Dez, 2003.
LILLEGARD; BUTCHER; RUCKER. Manual de medicina desportiva: Uma abordagem orientada aos sintomas. 2ª edição. Barueri: Manole, 2002.
METZKER, Carlos A. B. Tratamento conservador na síndrome do impacto no ombro. Fisioter. Mov. Curitiba. Vol. 23. Nº 1. Março/2010.
NEUMANN. Cinesiologia do aparelho musculoesquelético: fundamentos para a reabilitação física. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2006.
OMBREGT, Ludwig; BISSCHOP, Pierre. Atas de exame ortopédico das articulações periféricas. Barueri: Manole, 2001.
PLACZEK; BOYCE. Segredos em fisioterapia ortopédica: Respostas necessárias ao dia-a-dia em rounds, na clínica, em exames orais e escritos. Porto Alegre: Artmed, 2004.
SOUZA, Marcial Zanelli. Reabilitação do complexo do ombro. São Paulo: Manole, 2001.
TURNER-STOKES, L; JACKSON, D. Shoulder pain after stroke: a review of the evidence base to inform the development of an integrated care pathway. Clin Rehabil. Vol.16, 2002.
VEADO. Luxação inveterada do ombro. Rev. Bras. Ortop. Vol. 39. Nos
1/2. Fevereiro/2004.
VASCONCELOS; LEONARDI; REIS; CARVALHO FILHO; CHUEIRE. Instabilidade Antero-inferior traumática do ombro: Procedimento de Bankart em atletas não profissionais. Acta Ortop. Bras. Vol. 11. Nº 3. Agosto/2003.
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