quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Como Ler um Raio X do Tórax

Você provavelmente já viu o raio-x torácico (radiografia do peito) ou até já chegou a fazer um. Você já se perguntou como se lê um raio-x do tórax? Aqui está uma abordagem rápida e fácil que utiliza apenas alguns passos simples e a associação de letras ‘A, B, C, D, E, F, G, H, I’ (em inglês, apenas).

Quando olhar para uma radiografia, lembre que é uma representação bidimensional de um objeto tridimensional. Altura e largura são mantidas, mas a profundidade se perde. O lado esquerdo da imagem representa o lado direito do indivíduo, e vice-versa. Ar aparece em preto, gordura aparece em cinza, tecidos finos e água aparecem como tons claros de cinza, e ossos e metais aparecem em branco. Quando mais denso o tecido, mais branco será no raio-x. Tecidos densos aparecem opacos e claros nas imagens; tecidos menos densos aparecem translúcidos e escuros nas imagens.



1-Confira o nome do paciente. Antes de qualquer coisa, tenha certeza de que você está olhando pro raio-x torácico certo. 
2-Leia a data da radiografia torácica. Preste bem atenção nas datas quando comparar com radiografias antigas (sempre olhe as radiografias antigas, se disponíveis). A data em que a radiografia é tirada fornece importantes informações e contexto para interpretação e descobertas. Por exemplo, uma massa que tenha aumentando em 3 meses é mais significante do que uma que tenha aumentado em 3 anos. 
3-Repare o tipo de imagem (esse artigo entende que você está analisando um raio-x do tórax, e não uma foto comum, uma tomografia computadorizada, um angiografia, ressonância magnética, etc). Para raio-x, existem diversas visualizações, como: 
  • A visualização padrão do tórax é a radiografia póstera, ou “tórax PA”. Póstero-anterior refere-se à direção do raio-x atravessando o paciente de posterior para anterior. Esta imagem é tirada com o paciente na vertical, em plena inspiração (com os pulmões cheios de ar), e com a máquina de raio-x na horizontal a 1,8 metros do filme.
  • A radiografia do tórax antero-posterior (AP) é obtida com a máquina de raio-x atravessando o paciente de anterior para posterior, normalmente obtida com um raio-x portátil para pacientes muito doentes, aqueles incapazes de se levantar, e bebês. Já que o raio-x portátil tende a ser menos potente do que máquinas normais, as radiografias AP são geralmente tiradas a uma distância menor do filme, comparadas às radiografias AP. Quanto mais longe estiver a fonte dos raios-x do filme, mais nítido e menos ampliada fica a imagem. (Você pode confirmar isso colocando sua mão a uns 8cm de uma mesa, acendendo uma lâmpada acima da sua mão em diferentes distâncias e observando as sombras. A sombra será mais nítida e menos ampliada se a lâmpada estiver distante). Sendo as radiografias AP tiradas de uma distância curta, as imagens aparecerão mais ampliadas e menos nítidas comparado com as imagens PA padrão. 
  • A radiografia torácica lateral é tirada com o lado esquerdo do tórax do paciente encostado no filme do raio-x (lado esquerdo ao invés do direito para fazer o coração aparecer mais nítido e menos ampliado, já que o coração é mais próximo do lado esquerdo do peito). É tirado com a máquina a 1,8 metros de distância, assim como na visão PA. 
  • Uma vista oblíqua é uma vista girada, entre a vista frontal padrão e a vista lateral. É útil para localizar lesões e eliminar estruturas sobrepostas nas imagens. 
  • Uma vista decúbito lateral é a imagem feita com o paciente deitado de lado. Isso ajuda a determinar se a suspeita de fluido (derrame pleural) esta correta, porque o mesmo irá assentar para o fundo, ou se a suspeita de ar (pneumotórax) está correta, porque o mesmo vai subir. Por exemplo: se há suspeita de fluido pleural no pulmão esquerdo, faça uma imagem decúbito lateral esquerda (permitindo que o fluido assente do lado esquerdo). Se a suspeita é de ar no pulmão esquerdo, faça uma imagem decúbito lateral direita (permitindo que o ar suba pra o lado esquerdo). 

4-Procure marcadores: ‘E’ para Esquerdo, ‘D’ para Direito, ‘PA’ para Póstero-Anterior, etc. Veja a posição do paciente: inerte (deitado), vertical, lateral, decúbito. 

5-Veja a qualidade do material do filme. 

  • Exposição: filmes superexpostos parecem mais escuros do que o normal, tornando os detalhes difíceis de enxergar; filmes sem exposição suficiente parecem mais brancos que o normal, o que gera uma opacificação geral. Procure por corpos invertebrados em um raio-x torácico bem penetrado. Um raio-x do tórax sem penetração de imagem não pode diferenciar corpos vertebrados de espaços invertebrados, enquanto um filme penetrado demais mostra espaços invertebrados com muita distinção. 
  • Para avaliar exposição, olhe para a coluna vertebral atrás do coração na visão frontal. Se for possível ver a espinha detalhada e os vasos do pulmão atrás do coração, a exposição está correta. Se somente a espinha estiver visível, mas não os vasos pulmonares, o filme está muito escuro (superexposto). Se a espinha não estiver visível, o filme está muito branco (sem exposição suficiente). 
  • Movimento: movimento aparece como áreas com borrões. É difícil encontrar um pneumotórax sutil se houver um movimento significativo. 
  • Rotação: rotação significa que o paciente não estava posicionado reto no filme de raio-x, com um plano do peito girado comparado com o plano do filme. Isso causa distorção porque pode fazer os pulmões parecerem assimétricos e a silhueta cardíaca desorientada. Procure ver se os pulmões direito e esquerdo têm praticamente o mesmo diâmetro, e se as pontas das costelas (final da área calcificada de cada costela) estão no mesmo lugar na parede do tórax, o que indica ausência de rotação significativa. Se existe alguma rotação significativa, o lado que foi levantado aparece mais estreito e mais denso (mais branco) e a silhueta cardíaca aparece mais no campo oposto do pulmão. 

6-Vias aéreas: confira se consegue ver se as vias aéreas estão evidentes e alinhadas. Por exemplo, em um pneumotórax hipertensivo, as vias aéreas estão desviadas pra longe do lado afetado. Procure a quinta vértebra torácica, onde a traqueia bifurca (se divide) entre os brônquios direito e esquerdo. 
7-Ossos: procure nos ossos qualquer tipo de fratura, lesão ou defeito. Perceba o tamanho total, formato e contorno de cada osso, densidade e mineralização (ossos osteopênicos parecem finos e menos opacos), espessura cortical em comparação com a cavidade medular, padrão trabecluar, presença de qualquer erosão, fraturas, áreas líticas ou blásticas. Procure por lesões Lucent e escleróticas. Uma lesão Lucent é uma área no osso com pouca densidade (parecendo escura); pode parecer que está pra fora em comparação ao osso circundante. Uma lesão esclerótica é uma área no osso com muita densidade (parecendo mais branca). Nas articulações, procure por estreitamento no espaço entre as articulações, ou alargamento, calcificação na cartilagem, ar no espaço entre as articulações, acúmulos anormais de gordura, etc. 
8-Silhueta cardíaca: veja o tamanho da silhueta cardíaca (espaço branco representando o coração, situado entre os pulmões). Uma silhueta cardíaca normal ocupa menos da metade da largura do peito. 
Procure por coração com forma de garrafa d’água em uma imagem PA plana, sugerindo derrame pericárdico. Faça uma ultrassonografia ou tomografia computadorizada do tórax para confirmar. 
9-Diafragmas: procure por diafragma plano ou elevado. Um diafragma achatado pode indicar enfisema. Um diafragma elevado pode indicar uma área com ar consolidado (como na pneumonia) fazendo com que o campo inferior do pulmão fique indistinguível na densidade do tecido em comparação com o abdômen. O diafragma direito é normalmente mais elevado do que o esquerdo, devido a presença do fígado abaixo do diafragma direito. Também olhe o ângulo costofrênico (que deve ser nítido) procurando por qualquer embotamento, que pode indicar derrame (como fluido se assentando). São necessários cerca de 300-500 ml de fluido para embotar o ângulo costofrênico. 
10-Bordas do coração: tecidos moles externos: Veja as bordas do coração conferindo o sinal da silhueta: uma radio-opacidade escurecendo a margem do coração, no lobo médio direito e pneumonia lingular esquerda, por exemplo. Também procure nos tecidos moles externos qualquer anormalidade. Veja os linfonodos, procure por enfisema subcutâneo (densidade de ar abaixo da pele), e outras lesões. 
11-Área dos pulmões: veja a simetria, vascularidade, presença de alguma massa, nódulos, infiltrações, fluido, prisão dos brônquios, etc. Se fluido, muco, tumor, ou etc., preenche os sacos de ar, os pulmões parecerão densos (claros), com marcações intersticiais menos visíveis. 
12- Bolha gástrica: procure a presença de bolha gástrica, logo abaixo do coração; perceba se está obscura ou ausente. Avalie a quantidade de gás e localização da bolha gástrica. Bolhas de gás normais também podem ser vistas nas flexuras hepática e esplênica do cólon. 
13-Hilos: procure por nódulos ou massas nos hilos de ambos os pulmões. Na visão frontal, a maioria das sombras nos hilos representam as artérias pulmonares. A artéria pulmonar esquerda está sempre mais elevada do que a esquerda, fazendo os hilos esquerdos mais altos. Procure por linfonodos calcificados nos hilos, o que pode ser causado por uma antiga infecção de tuberculose. 
14-Instrumentações: procure por qualquer tipo de tubo, linhas intravenosas, pistas de eletrocardiografia, drenos cirúrgicos, próteses, etc. 


Dicas


Siga uma metodologia sistemática para ler um raio-x do tórax para garantir que você não perca nada. 
Uma boa regra de ouro para ler raio-x do tórax é ir de observações gerais para detalhes específicos. 
Sempre compare com radiografias antigas quando disponíveis. Elas vão te ajudar a detectar uma nova doença e avaliar mudanças. 
A prática leva à perfeição. Estude e leia muitas radiografias para se tornar proficiente nelas. 
O tamanho do coração deve ser menor eu 50% do diâmetro do peito. 
Rotação: olhe as cabeças clavicórdias em relação ao processo espinhoso – eles devem estar equidistantes. 



Um comentário:

  1. Parabéns sabe tanto Rx que colocou uma foto de alguém olhando um Rx invertido...

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